Lai Ching-te, candidato do Partido Democrático Progressista (DPP), foi eleito Presidente de Taiwan nas eleições mais decisivas da história recente do território reivindicado pela China. O candidato do Kuomintang (KMT), da oposição, Hou Yu-ih, reconheceu a derrota ainda durante a contagem dos votos.
Lai, que era vice-Presidente, beneficiou da ausência de um candidato único que congregasse os votos da oposição ao DPP, que foram divididos entre Hou do KMT, e Ko Wen-je do recém-criado Partido Popular de Taiwan (TPP). Com a contagem ainda em curso, Lai tinha já mais de cinco milhões de votos, enquanto Hou tinha quatro milhões.
A vitória de Lai representa um marco histórico para Taiwan por ser a terceira vitória consecutiva do DPP, seguindo-se aos dois mandatos da Presidente cessante Tsai Ing-wen. Desde a democratização, nos anos 1990, nunca nenhum partido tinha estado tanto tempo seguido no poder. E o facto de ser o DPP é ainda mais relevante, tendo em conta o papel fundacional do KMT, que em 1949, depois da derrota na guerra civil contra as forças de Mao Tsetung, se refugiou na ilha e deu início a um percurso político, social e económico autónomo do resto da China.
As eleições presidenciais e legislativas deste sábado em Taiwan foram provavelmente as que mereceram maior atenção mediática por serem consideradas determinantes para o futuro das relações entre a China e os EUA. Nos últimos anos, Pequim tem aumentado a pressão sobre Taiwan, território por si reivindicado desde a guerra civil de 1949, intensificando as manobras militares perto do espaço aéreo e da fronteira marítima da ilha.
O Presidente Xi Jinping afirma que quer promover uma reunificação pacífica com Taiwan nos próximos anos, mas diz também que não exclui usar a força se o território caminhar na direcção do “separatismo”. E essa ameaça é dirigida especificamente aos dirigentes do DPP, como é o novo Presidente.
Fazendo fé na interpretação que o Partido Comunista Chinês (PCC) foi repetindo ao longo das últimas semanas das eleições taiwanesas – uma escolha entre “a guerra ou a paz” –, a maioria dos eleitores da ilha optou pelo conflito. Ao longo da campanha eleitoral, Pequim não escondeu a sua preferência pelo candidato do KMT, visto como mais favorável ao retorno do diálogo com a China.
Apesar de em tempos ter defendido a independência de Taiwan, Lai disse que a sua prioridade é a segurança do território e afastou qualquer alteração ao o estado em que que vigora há décadas. Trata-se de um frágil equilíbrio diplomático que deu a Taiwan um estatuto único. Apenas 13 países reconhecem a República da China, o nome oficial de Taiwan, e, por isso, não mantêm relações diplomáticas com a República Popular da China.
Os EUA deixaram de reconhecer Taiwan como um Estado soberano em 1979 para poder estabelecer relações oficiais com a China, mas mantém até hoje laços muito próximos com a ilha. Washington é um importante parceiro comercial de Taiwan, bem como o principal fornecedor de armamento, e recentemente o Presidente Joe Biden disse que não exclui uma intervenção militar em defesa do território em caso de agressão chinesa.