Torga e o acto eleitoral
Meu caro Miguel, morreste há 29 anos (17/1/1995). Certamente que uma das mais exaltantes recordações que levaste contigo foi o acto eleitoral de 25/4/1975. A esmagadora maioria silenciosa dos portugueses queria dizer não às ameaças de uma nova ditadura e teve a esclarecida consciência de que a melhor arma que poderia utilizar era comparecer em peso às urnas. A tua nota no Diário desse dia é sublime: “Era comovedor ver a convicção, a compostura, o aprumo, a dignidade assumida pela multidão de eleitores a caminhar para as urnas, cada qual compenetrado de ser portador de uma riqueza preciosa e vulnerável: o seu voto, a sua opinião, a sua determinação.”
Penso, caro mestre, que este texto deveria ser divulgado pela Comissão Nacional de Eleições. Tu levas sempre contigo a dignidade a todas as áreas onde entras! Obrigado.
José Manuel Cymbron, Lisboa
Já começou a campanha das mentiras
Conforme o calendário da Comissão Nacional de Eleições, está marcado para o dia 10 de Março a eleição dos deputados para a Assembleia da República. Estamos a dois meses do citado acto e todos os partidos políticos, qual deles o melhor, já andam numa azáfama estonteante, eufóricos, a convencer o pagode com discursos cheios de ilusões, de promessas vãs, que eles sabem que, chegados ao poder, não vão cumprir. Discursos inflamados, qual o bom vendedor da chamada banha da cobra. Mente-se tanto, e para quê? São todos eles. Não cito nomes de partidos políticos, porque eles são todos iguais, pois estudaram na mesma cartilha. E andamos nesta conversa há 50 anos.
Mário da Silva Jesus, Codivel
Vendedores da banha da cobra?
Sejamos claros. Todos os líderes dos partidos são, também, vendedores da banha da cobra. Uns mais, outros menos. Uns com mais pudor, outros de forma mais descarada. As promessas sempre fizeram parte da narrativa dos líderes dos partidos políticos. Lembremo-nos de que eles pretendem aliciar e seduzir o voto do povo e o povo sabe exigir – outras vezes exige demais e os políticos entram no jogo. Como se saberá, os líderes políticos, em particular, e os políticos, em geral, não deixam de ser actores representando no palco da vida. “All the world’s a stage”, como dizia W. Shakespeare, ou, mais concretamente, o mundo inteiro é um palco e todos os homens e mulheres não passam de meros actores. Eles entram e saem de cena e cada um no seu tempo representa diversos papéis. Os políticos também “entram e saem de cena”. André Ventura, que tantos engulhos está a provocar, é um vendedor da banha da cobra? E “cadê” os outros?, como dizem os brasileiros. Não nos esqueçamos de que já Nikita Kruschev – em 1956 passou a líder supremo da União Soviética – dizia que “os políticos são todos iguais em todo o lugar. Eles prometem construir pontes mesmo onde não existem rios”. Por conseguinte…
António Cândido Miguéis, Vila Real
A luta das forças de segurança
Tenho acompanhado a luta das forças de segurança pela comunicação social. É um elemento comum a todas as notícias a coragem da acção isolada e solitária do agente Pedro Costa. Ontem, ao ler o artigo de Graça Castanheira publicado no domingo, dei conta de que um tsunami de ingenuidade deve ter atingido jornalistas e comentadores. De facto, algum ser pensante, repito, pensante, pode acreditar que a acção do agente Pedro Costa é solitária e foi tomada isoladamente?
Como explicar a rapidez com que se avariaram tantas viaturas da PSP? Como explicar a imediata tomada de posição dos sindicatos a dizer que nada tinham a ver com o movimento e ao mesmo tempo mobilizavam pessoas? Porque será que só o BE e o Chega apoiaram a iniciativa do agente Pedro Costa? Como explicar que os responsáveis máximos da PSP e GNR se tenham colocado, de imediato, ao lado dos seus subordinados? Estamos em período eleitoral, convém recordar. Senhores jornalistas, investiguem e depois contem-nos.
Octávio Senos Miranda, Lisboa