A guerra entre Israel e o Hamas no Médio Oriente, que começou a 7 de Outubro de 2023, faz a sua estreia com três fotografias na competição regional do World Press Photo 2024, num concurso que distinguiu 33 fotógrafos de 24 países.
Na região da Ásia, na categoria Imagem, a fotografia vencedora mostra uma mulher palestiniana que abraça o corpo da sua sobrinha morta quando um míssil israelita atingiu a sua casa, diz a descrição do júri regional presidido por Cynthia Karam (Líbano/França), uma editora sénior da agência Reuters para a Síria, Líbano, Jordânia e Noroeste de África. “[A imagem] foi vista pelo júri como uma recordação importante do carácter definitivo da perda pessoal no meio das estatísticas da guerra.”
A imagem foi captada por Mohammed Salem (Palestina), da Reuters, que esteve em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, a 17 de Outubro, na morgue do Hospital Nasser, onde os residentes iam à procura de familiares desaparecidos, conta o PÚBLICO a 6 de Novembro, numa história especial sobre o seu trabalho dedicado ao luto em Gaza.
“Foi um momento forte e triste e senti que a imagem resume o sentido mais amplo do que estava a acontecer na Faixa de Gaza”, disse Mohammed Salem sobre o momento em que viu Inas Abu Maamar agachada no chão da morgue, a soluçar e a abraçar com força o corpo de Saly, uma criança de cinco anos. “As pessoas estavam confusas, a correr de um lado para o outro, ansiosas por saber o destino dos seus entes queridos, e esta mulher chamou-me a atenção porque segurava o corpo da menina e recusava-se a largá-lo.”
O comunicado acrescenta que, “por razões pessoais”, Cynthia Karam já não fará parte do júri global que, com base nos vencedores regionais – um modelo em funcionamento desde 2021, com o objectivo de apoiar maior diversidade de histórias e de autores –, escolherá os vencedores globais que serão anunciados a 18 de Abril. Foi substituída por Elyor Nemat, um fotógrafo do Uzbequistão que já fazia parte do júri regional. O PÚBLICO tentou saber junto da organização do World Press Photo se as razões deste afastamento também poderiam estar ligadas à escolha das imagens sobre a guerra Israel-Hamas, mas até agora ainda não foi possível obter uma resposta.
Além das seis menções honrosas atribuídas todos os anos, o júri tomou “a decisão excepcional”, sublinha o comunicado de imprensa divulgado pela organização com sede em Amesterdão, de atribuir mais duas menções à guerra Israel-Hamas. Cada uma, continua o júri, “mostra um único indivíduo (um israelita e um palestiniano), no rescaldo de um ataque terrível”. Leon Neal (Reino Unido), representado pela Getty Images, foi distinguido com uma imagem intitulada “The Aftermath of the Supernova Festival Attack” (numa tradução literal, “O rescaldo do ataque ao Festival Supernova”) e Mustafa Hassouna (Palestina), representado pela Anadolu Images, com “Israeli Airstrikes in Gaza” (numa tradução literal, “Ataques aéreos israelitas em Gaza”).
Muitas destas imagens são feitas em “circunstâncias inimagináveis”, diz a presidente do júri, Fiona Shields, responsável pela secção de Fotografia do jornal britânico O guardião.
“Estas obras finais seleccionadas são uma tapeçaria do nosso mundo de hoje, centrada em imagens que acreditamos terem sido feitas com respeito e integridade, que podem falar universalmente e ressoar muito além das suas origens”, acrescentou a editora do O guardião.
Não há portugueses, nem histórias do território nacional, entre as fotografias premiadas na Europa, que como o resto do mundo abrangem quatro categorias (ImagemSérie, Projectos de Longo Prazo e Formato Livre). Ao todo, foram escolhidos 32 projectos das seis regiões – que abarcam, além da Ásia e da Europa, fotógrafos de África; América do Norte e Central; América do Sul; Sudoeste Asiático e Oceânia –incluindo as duas menções honrosas especiais, com uma entrada na região de África em que dois fotógrafos partilham um prémio.
O júri destacou também a presença em 2023 de temas ligados à família e às alterações climáticas.
O maior concurso de fotojornalismo e fotografia documental do mundo, que recebeu 61.062 entradas de 3851 fotógrafos de 130 países, premiou profissionais da África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Azerbaijão, Birmânia, Brasil, Canadá, China, Congo, Espanha, Estados Unidos, Filipinas, França, Índia, Indonésia, Irão, Japão, Palestina, Peru, Tunísia, Turquia, Ucrânia e Venezuela. No total, aponta o júri, 20 dos vencedores são originários do país ou da comunidade que cobrem.
Todos os vencedores regionais recebem um prémio monetário de mil euros e um troféu, enquanto as menções honrosas serão incluídas na exposição internacional com circulação por 70 cidades em 30 países.