A proposta de acordo laboral a três anos na Volkswagen Autoeuropa, com aumento salarial de 6,8% este ano, e de 2,6% nos dois anos subsequentes (ou o valor da inflação do ano anterior acrescido de 0,6% se for mais vantajoso), foi rejeitado por 57,7% dos trabalhadores que participaram no referendo concluído esta quarta-feira.
“Vamos analisar calmamente os resultados”, diz a administração da fábrica de Palmela. Do lado da Comissão de Trabalhadores, remete-se para o comunicado em que são divulgados os resultados, e no qual este órgão acrescenta que, após este desfecho, “vai exigir à empresa o regresso à mesa das negociações”.
As curtas declarações de ambos os lados deixam adivinhar que se caiu no impasse. A votação reflecte uma empresa dividida, com 41,8% de votos a favor. A participação foi elevada: 80,4%. Tinham direito a voto 4888 trabalhadores. A primeira versão do pré-acordo proposto pela empresa e pela comissão de trabalhadores (CT) não chegou a ser votada, face à oposição demonstrada durante os plenários pré-referendo.
Seguiu-se uma segunda proposta, que foi votada agora, e que melhorava em 0,6% e 0,3% os aumentos nos salários de 2025 e 2026, altura em que a fábrica já deverá estar a produzir outro modelo diferente do actual.
Aqueles que apoiavam o pré-acordo estavam à espera de receber já este mês os aumentos com retroactivos a Janeiro. A primeira consequência do referendo pode ser um adiamento.
A posição da administração é, para já, uma incógnita. Tinha apostado tudo num acordo a três anos, um prazo inédito na história desta unidade, apostando num cenário de “estabilidade” prolongada face ao momento decisivo que se avizinha, com a transição da produção do modelo actual, o T-Roc, para um novo modelo híbrido eléctrico.
Porém, esse argumento não convenceu a maioria dos votantes. Agora, há três cenários possíveis. Ou se reatam as negociações com vista a conseguir um acordo de empresa que seja aprovado em novo referendo; ou a empresa passa a trabalhar sem acordo (tal como já aconteceu no passado) e decide fixar sozinha o aumento; ou trabalha sem acordo e sem aumentos (o que também já aconteceu, ainda há poucos anos, quando decidiu atribuir prémios individuais de 500 euros em vez de mexer nos salários).