Pela primeira vez desde que esta tecnologia está disponível em Portugal, mais de metade das compras com cartão foi realizada com sem contato em 2023. Isto, num ano em que os pagamentos de retalho em Portugal cresceram mais de 10%, tanto em número de operações como no valor total transaccionado.

Os dados são do Banco de Portugal (BdP) e constam do mais recente Relatório dos Sistemas de Pagamentos, publicado nesta quinta-feira. Ao todo, no conjunto do ano passado, foram realizados 4,2 mil milhões de pagamentos electrónicos e por cheque (isto é, exceptuando os pagamentos em numerário), no valor total de 740,2 mil milhões de euros, números que representam aumentos de cerca de 13%, em ambos os casos, em relação ao ano anterior. Estes aumentos, indica o regulador, reflectem “o contexto de crescimento da actividade económica do país”.

Entre estes, o meio de pagamento mais utilizado é o de cartão electrónico, que representou 88,9% do número de operações. Ainda assim, este meio respondeu por apenas 27,2% do montante total de operações processadas. Foram as transferências bancárias, por seu lado, que representaram mais de metade (57%) do montante total transaccionado.

Olhando apenas para os pagamentos com cartões, o relatório do BdP indica que, por dia, foi realizada uma média de 10,3 milhões de operações, num valor médio diário de 550,8 milhões de euros. A maioria destas operações diz respeito a compras (quase 63%). E, nas compras com cartão, há também um novo dado: pela primeira vez, mais de metade (53%) das compras com cartão foi sem contato (tecnologia sem contacto), um tipo de meio que cresceu mais de 30% em relação ao ano passado, tanto em quantidade quanto em valor.

Esta é uma tecnologia que tem vindo a recolher cada vez maior adesão em Portugal. Em 2019, antes da pandemia, os pagamentos sem contato representavam apenas 8% do total de compras com cartão. No mesmo sentido, também as compras on-line cresceram mais de 33% no ano passado, representando agora 16% das compras com cartões (muito acima da proporção de 8% que, também neste caso, se verifica antes da pandemia).

Já o número de transferências a crédito (nome dado à generalidade das transferências bancárias, através das quais os fundos chegam à conta destinatária no espaço de 24 horas) cresceu 15,7% em 2023, num total de quase 422 mil milhões de euros transferidos, representando um valor médio de 1940 euros por cada transferência a crédito.

O crescimento das transferências imediatas (que permitem a recepção de fundos na conta destinatária alguns segundos após a ordem de pagamento) foi ainda mais acelerado, superando os 33%. Este foi, assim, o instrumento de pagamento que mais cresceu no ano passado, mas continuou a representar uma pequena fatia do total de transferências realizadas em Portugal, de apenas 5,2%, muito abaixo da média de 15,5% verificada na Europa. A justificar a falta de adesão a este instrumento está, sobretudo, o seu custo, um entrave que vai desaparecer em breve, já que, a partir do próximo ano, os bancos serão obrigados a aplicar as regras de um novo regulamento europeu que vem estabelecer que todas as instituições que prestem serviços de transferências terão de disponibilizar transferências imediatas sem encargos adicionais.

Em sentido contrário, há cada vez menor recurso aos pagamentos em papel: no ano passado, foram utilizados menos de dez milhões de cheques, o equivalente a 0,2% do total de operações processadas pelo sistema de pagamentos gerido pelo BdP, num total de cerca de 60 mil milhões de euros.

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