CPI condenada ao fracasso

O problema não está nas comissões parlamentares de inquérito (CPI). Está sim até que ponto elas tendam a entrar no campo da justiça, que tem instrumentos e instituições próprias para analisar cada caso que suscite averiguação. São muitas vezes os deputados a procurarem rivalizar com procuradores, advogados e juízes, mas sem a sensibilidade bastante para analisarem as matérias com a ponderação que é devida a cada uma delas. Estas CPI acabam, através do Parlamento, por lançar para a praça pública questões que deviam ser antes analisadas com todo o recato. É o que se passa com o chamado “caso das gémeas”, de tal modo que já ninguém acredita que da inquirição dos deputados resulte algo de concreto. É que alguns dos principais visados são arguidos e estão a ir à CPI dizer que estão ali, mas não querem falar dado estarem ao abrigo do segredo de justiça. É o trabalho da CPI a colidir com o aparelho judicial e a falhar na sua condição de inquiridor. Esta CPI está assim condenada ao fracasso, mesmo que assente nos desígnios políticos de um certo dr. Ventura.

Eduardo Fidalgo, Linda-a-Velha

A agonia de Alfama

“Viver é ser no tempo intemporal/ É nunca, a ser o mesmo, ser igual” (Torga). Noutro ponto da sua obra o autor de Portugal acrescenta que “Grande, só a multiplicação incansável do autêntico”. Onde está “a multiplicação incansável do autêntico”, em Alfama? A maior parte da população e dos comerciantes migrou. Sim, onde está a mercearia do Sr. Zé, a Farmácia do Sr. Brás, a barbearia do Sr. Manel, a estância de madeiras do Manel, o restaurante da Tina e, principalmente, a padaria da D. Lurdes?

Nada do que veio de novo é uma mais-valia. E cada vez somos mais invadidos, até altas horas da noite, por uma música estridente a ensurdecedora de qualidade muito duvidosa. O Museu do Fado e a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior (à qual Alfama pertence) resistem com coragem e inovações positivas. Mas Alfama, parte fundamental do embrião da cultura portuguesa, precisa de mais atenção da câmara e do Governo. A tarefa é ciclópica, mas compensa!

José Cymbron, Lisboa

Camões

Nunca pensei escrever uma “carta ao director” de um jornal. Faço-o agora para louvar o notável artigo de Manuel Portela sobre o programa das comemorações do V Centenário do Nascimento de Luiz Vaz de Camões [publicado na edição de ontem]. Com este artigo acabou-se o discurso hipócrita sobre as Comemorações. Notabilíssimo artigo.

Miguel Real, Colares

Ana Gomes e a União Nacional

No seu comentário semanal na SIC Notícias, Ana Gomes, afirmou que “votar na União Nacional /UN) é votar contra a França”. Não sendo eu um simpatizante da ideologia da UN – longe disso –, fico, de certa maneira, perplexo pela superficialidade do raciocínio da socialista. Ana Gomes parece desconhecer que a União Nacional tem crescido nestes últimos anos porque as condições de vida de uma larga franja da população francesa se têm degradado, porque a imigração desregulada e desregrada tem criado problemas, porque muitos franceses estão fartos da deterioração política, económica e social e estão fartos da instabilidade na sociedade francesa. Igualmente estão fartos das manifestações e da desordem. Alguém acredita que a senhora Marine Le Pen é “contra a França?” É certo que a UN representa um eleitorado zangado e enfurecido que, nas últimas eleições, transmitiu um “sinal” a Macron:: o “sinal” do descontentamento. O que Ana Gomes desconhece é que a UN tem crescido não pelo seu mérito mas pelo demérito dos governantes franceses que não têm dado” conta do recado”, permita-se-me a expressão.

António Cândido Miguéis, Vila Real

As pessoas são números

O quadro, apresentado pelo SNS, do tempo médio de espera para o atendimento nas urgências gerais, nos hospitais, conforme a cor da pulseira que é atribuída é uma realidade que não corresponde aos números apresentados, naquele quadro. Toda a informação ali prestada é uma autêntica mentira. Recorro especialmente ao Hospital Beatriz Ângelo, Loures – ainda esta semana passei lá cerca de nove horas, mesmo tendo-me sido atribuída a pulseira amarela. A sala de espera é um “mar” de gente onde as horas passam e o atendimento é a passos de caracol. O tratamento que os pacientes, doentes ou clientes recebem é de enorme indiferença. O sistema está assim implementado, os dados estão viciados, vamos e temos de continuar a viver neste cenário de desespero. E não há ninguém que consiga dar a volta para melhorar este caos.

Mário da Silva Jesus, Codivel

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