Cartas ao director

Olivença e Xi Jinping

Como leitor diário do jornal PÚBLICO, li atentamente as pretensões do ministro da Defesa, Nuno Melo, acerca de “Olivença é Portugal”. Na verdade, é público que a Espanha não se cansa de exigir a soberania de Gibraltar aos ingleses — península rochosa — que foi perdida no século XVIII. Logo, que força política e moral tem a Espanha para tal reivindicação se não reconhece o direito a Portugal de readquirir Olivença, que usurpou? Xi Jinping, da China, defendeu a devolução das ilhas Malvinas aos argentinos; Portugal, país com seriedade, cumpriu atempadamente com Macau à China; a França nunca assinou o tratado de Badajoz, conforme era do documento, para que a ocupação de Olivença por Espanha se efectivasse; a Espanha disse entregar Olivença se Portugal ajudasse militarmente Franco na guerra civil espanhola e não cumpriu. Ora a Espanha exige Gibraltar à Inglaterra. Sendo assim, é assim, porque é que Portugal não pede a Xi Jinping da China que interfira na devolução de Olivença como o fez com as ilhas Malvinas? Pode ser que resulte!

Artur Soares, Braga

ministro anacrônico

Não curando de ponderar a oportunidade ou não de aludir ao assunto, um ministro em funções decidiu há dias referir-se ao diferendo acerca da soberania sobre a cidade de Olivença que, segundo um tratado antigo, deveria fazer parte do território português e não do espanhol. Como demonstração de patriotismo, é, sem dúvida, comovedor e gera-nos uma enorme nostalgia…

Todavia, o ministro parece esquecer-se de questões actuais de muito maior vulto. A autonomia de Portugal no interior da União Europeia não é nenhuma; os Orçamentos do Estado estão sujeitos ao visto prévio da União, o que significa que não temos a liberdade de escolher o que queremos fazer no país; e tivemos de encerrar escolas, tribunais, postos de saúde, correios; não podemos ter moeda própria e alterar-lhe o valor conforme a conveniência para a economia, são-nos impostas comparticipações para despesas militares para intervenções em guerras que não são nossas; estamos sujeitos a decisões do Eurogrupo, organismo que tem mera existência de facto, visto que não faz parte da estrutura institucional da UE, etc., etc.

Não, senhor ministro, a questão maior que agora se nos põe não é se Olivença é nossa ou dos espanhóis; a questão é a de saber se Portugal ainda é nosso ou é das potências maiores da UE de além-Atlântico. Trate do assunto se se julgar capaz.

António Reis, Vila do Conde

Celebremos os 45 anos do SNS

O SNS faz 45 anos. Muitos portugueses não imaginam como era o acesso aos cuidados de saúde antes da criação do SNS e por isso não conseguem avaliar a verdadeira revolução que foi a sua criação. António Arnaut que deve ser relembrado porque, além de tudo o que fez em prol do país, foi o pai do SNS, estaria hoje, por certo, muito triste, por verificar que muita gente tenta, actualmente, diminuir a eficiência do SNS.

Ana Paula Martins, ministra da Saúde, é o expoente máximo dessa campanha, por muito que diga que não. Não consigo entender por que razão Ana Paula Martins não descansou enquanto não conseguiu que Fernando Araújo abandonasse as funções que exercia. Será que Ana Paula Martins tem inveja da forma como funciona o SNS no Norte de Portugal e, por isso e só por isso, não concordou com as opiniões de Fernando Araújo e tudo fez para que ele se demitisse de director executivo do SNS? Se assim foi, não pode continuar como ministra da Saúde porque não defende nem nunca defenderá os interesses do cidadão anónimo.

Manuel Morato Gomes, Senhora da Hora

O caminho-de-ferro em Portugal

É com muita tristeza que li, no PÚBLICO de ontem, as reportagens sobre os serviços no que resta da linha do vale do Vouga e sobre os atrasos na ligação ao Algarve. Um e outro artigo espelham bem o descalabro a que se chegou na ferrovia nacional: total desprezo pelo utente, ineficiência da CP e desinteresse por tudo quanto “cheire” a ferrovia. É uma situação lamentável, quase única na Europa, que nos envergonha. Por este andar, se não houver quem deite a mão ao sistema ferroviário nacional, estaremos ao nível da Albânia.

Não basta o caricato de não termos ligações eficientes com Espanha e, por causa de uma avaria em Belver, atrasam-se os comboios de Lisboa para o Algarve! Também deve ser um caso único no mundo, termos a gestora das infra-estruturas rodoviárias a gerir também a ferrovia! Que saudades da Refer.

E voltando às ligações com Espanha, já era boa altura para o serviço Porto-Vigo ter horários mais apropriados aos interesses dos potenciais clientes (por exemplo, garantindo ligação eficaz com Lisboa-Porto) e acabar com o caricato de serem precisos três ou quatro transbordos para fazer o percurso Lisboa-Madrid (é certo que neste tema as responsabilidades da Renfe são ainda maiores do que as da CP…).

Manuel Guedes-Vieira, Lisboa

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