Cartas ao director

Ainda o sismo

A profusão de notícias e comentários sobre o sismo é grande, mas lamento ninguém se referir à ausência, em Portugal, de um fundo de apoio financeiro a catástrofes naturais. Portugal deve ser um dos poucos países do mundo que, embora situado em zona sísmica, continuam a não dispor de um tal instrumento.

No final dos anos 90 e nos primeiros anos deste século, o tema foi muito debatido. Colaborei activamente na concepção de um tal fundo, na Associação Portuguesa de Seguradores e com o apoio do então Instituto de Seguros de Portugal. Tudo ficou pronto para ser implementado, cabendo à então Companhia Portuguesa de Resseguros assegurar a gestão do fundo. Tínhamos garantido o apoio – indispensável – do Ministério das Finanças. Fui, pessoalmente, à Universidade do Minho (pólo de Guimarães) fazer a apresentação pública do projecto.

Só que estávamos em 2004, o Governo Durão Barroso caiu, a ministra Manuela Ferreira Leite abandonou o Governo e a equipa de Pedro Santana Lopes não deu seguimento ao processo… Assim, 20 anos mais tarde, continuamos como dantes… E nem todos os portugueses podem dar-se ao luxo de subscrever a cobertura de riscos sísmicos nos seus contratos de seguro.

Será que a lição continuará a não ser aprendida? Nos arquivos do Ministério das Finanças e da Associação Portuguesa de Seguradores encontram-se todos os estudos necessários; que alguém os procure e faça implementar.

Manuel Guedes-Vieira, Lisboa

E agora?

Acordei exactamente às 5h11 julgando que alguém me estava a acordar. Era afinal o sismo de grau 5,3. No meu Android recebi a mensagem da Google a informar-me. Confesso que não estava preparado para isso, e não sei o que fazer, mas compreendo que é uma situação que pode acontecer a qualquer hora e que talvez me salve se o sismo for de fraca intensidade. Ninguém o pode prever com grande antecedência.

Ontem, porém, passei o dia a ouvir em todas as televisões o que eu deveria ter feito e não fiz porque não sabia. A legislação sobre a construção civil e a falta de fiscalização. Os edifícios restaurados sem que seja garantido o cumprimento da lei anti-sísmica. As escolas. Os hospitais. Os serviços públicos. Os quartéis dos bombeiros, etc., etc. Ninguém garante nada. Acho mesmo que vai ser uma grande desgraça se nos calhar outro sismo com uma escala de maior gravidade.

Ainda sou do tempo do último sismo, em 1969. Certamente uns dias depois falou-se muito da prevenção, criaram-se leis, etc. Não me lembro. Por agora, prevejo que se fale do sismo mais uns dias, para depois voltarmos todos a falar novamente de sismos só quando houver outro. O costume.

José Rebelo, Caparica

Alerta

O sismo sentido em Lisboa alerta para a fragilidade da generalidade das construções para resistir a essas manifestações da natureza. A par disso, a maioria das habitações apresentam debilidades a nível térmico e sonoro. Mesmo em habitações caras, é possível ouvir os ruídos que deviam ficar na ordenação particular de cada casa. Ouvir o que fazem os vizinhos faz parte da vida dos outros. Pequenos “sismos” são audíveis durante a noite. A nível térmico, a maioria das casas são frias no Inverno e quentes no Verão. Mesmo com a implementação em lei da qualidade, ambiente e segurança a vigorar para as obras de construção civil, só depois da vivência no local ficamos a saber se a casa tem qualidade face aos valores do mercado.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

Terremoto hiperbólico

Quem tivesse sentido um tremor de terra às 5h11 da madrugada de 26/8, com a intensidade de 5,3 na escala de Richter, ao largo de Sines, por certo não ficou tão alarmado quando leu e ouviu o continuado exagero da verdade, propagado pela comunicação social escrita e falada. É que não houve qualquer catástrofe sísmica, tendo em conta o anterior sismo de Fevereiro de 1969, em que houve 13 mortes e mais de 300 feridos, com derrocadas de alguns prédios.

Então, o acontecido em 1755, seguido de tsunamifoi demasiado devastador, arrasando, inundando e incendiando os restos que sobraram de Lisboa, matando milhares de pessoas ao longo de outros locais costeiros.

Custa-me imenso o que Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, verbalizou sobre o acontecido: “A capacidade de resposta foi muito rápida. Só não foi mais rápida porque era necessário validar informações.” E outras altas patentes da Protecção Civil foram nesse sentido. Para quê? Nem uma mosca morreu.

José Amaral, Vila Nova de Gaia

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