Luís Onofre troca Portugal Fashion pela ModaLisboa: “Não há qualquer ressentimento”

Luís Onofre deixa o Portugal Fashion para passar a integrar o calendário da ModaLisboa. “Sempre admirei o trabalho que a ModaLisboa faz com os designers portugueses e, particularmente, a Eduarda Abbondanza. Por vezes, as mudanças são boas”, declara o criador de calçado ao PÚBLICO. A apresentação, que também assinala os 25 anos da marca, está agendada para 13 de Outubro, o último dia de desfiles da 63.ª edição da semana da moda da capital.

Desde 2005, o criador de São João da Madeira tem estado ligado ao Portugal Fashion (PF), que tem actividade suspensa por falta de financiamento. Inicialmente, previa apresentar na edição de Julho do PF, que foi cancelada sem aviso prévio aos criadores, o que levou a que “ficasse sem apresentar a colecção” de Outono/Inverno. “Foi uma situação constrangedora para a marca não estava à espera que acontecesse”, desabafa.

O PÚBLICO contactou o Portugal Fashion sobre a saída de Luís Onofre, mas a organização escusou-se a prestar declarações até ao momento.

Onofre procurou alternativas na ModaLisboa, onde já se tinha apresentado em tempos, fruto de um acordo de cooperação entre as duas semanas de moda (entretanto terminado). “Têm feito um trabalho excepcional, de forma profissional e sempre dedicados às marcas portuguesas”, elogia, justificando a decisão também com uma vertente de negócio. “A minha principal clientela está na loja de Lisboa”, afiança.

“A moda é mudarmos, é termos conceitos novos, lugares novos. Neste momento assumi um compromisso com a ModaLisboa, até porque, ao momento, o Portugal Fashion quase deixou de existir”, declara. E assevera: “Não há qualquer ressentimento para com o PF e espero que, reunidas as condições, dê a volta por cima.”

Como destaque para o último dia da ModaLisboa, Onofre celebra os 25 anos de moda — fundou a marca própria no seio da fábrica de calçado do pai, a Calçado Realeza em São João da Madeira. “É um marco grande e estou entusiasmado”, confessa, não levantando mais o véu sobre o desfile. Mas a festa não fica por aí: na semana seguinte à ModaLisboa, vai celebrar também com um evento a 18 de Outubro no El Corte Inglès, em Lisboa, com um encontro de 25 mulheres que marcaram o seu percurso.

Nesta quarta-feira, a ModaLisboa divulgou o calendário da 63.ª edição, que decorrerá entre o Mude e o Pátio da Galé. Além da estreia de Onofre, é notória a ausência de Nuno Baltazar, um dos criadores mais sonantes do evento. “Infelizmente não conseguimos fazer esta próxima edição porque vamos lançar em breve uma nova linha”, justifica o criador ao PÚBLICO. A nova linha será dedicada à moda de noivas. “Estamos muito focados e entusiasmados nesse novo projecto”, celebra, detalhando que a colecção de Primavera /Verão será apresentada “em breve”.

A saída de Luís Onofre do PF é a primeira baixa na semana de moda do Porto desde a crise instalada em Março de 2022, quando a organização deixou de ter acesso aos fundos europeus que financiavam metade do orçamento de cada edição — 950 mil euros antes da crise e 450 mil euros nas últimas quatro edições de “compromisso”.

Desde 2016 até 2022, enquanto esteve em vigor o quadro comunitário Portugal 2020, a Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), que organiza o evento, recebeu cerca de 20 milhões de euros em fundos europeus. Nem todo o dinheiro foi usado no PF, certame que, de acordo com um estudo da Universidade Católica Portuguesa, antes da pandemia gerava dez milhões de euros em cada edição e criava 400 postos de trabalho.

O cancelamento da edição deste ano correspondeu à mesma altura em que foi aberta uma investigação policial sobre o Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (Feder), que envolve Manuel Serrão e António de Souza-Cardozo. Ambos foram, respectivamente, até 2009, vice-presidente e director-geral da ANJE, envolvidos directamente no PF durante esse período. Aliás, Serrão tinha o pelouro da organização da semana de moda na associação. Está, ainda, a ser investigada a criadora Katty Xiomara.

O PF agrega criadores de moda como Alexandre Moura, Miguel Vieira, Pedro Pedro ou Susana Bettencourt, que apresentavam as colecções em Março e Outubro no Porto. O certame sempre se distinguiu pela componente de internacionalização, levando os criadores nacionais a semanas de moda internacionais, como Paris, Milão ou Nova Iorque.

O PÚBLICO questionou também a organização sobre planos futuros, mas não obteve resposta até ao momento.

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