Dez anos é (e não é) muito tempo

A programação do Festival Literário de Ovar (FLO) deste ano invoca os 50 anos do 25 de Abril e os 500 anos do nascimento de Camões. O principal responsável pela “festa dos leitores”, Carlos Nuno Granja, diz ao PÚBLICO que os participantes podem esperar desta 10.ª edição “aquele ambiente próprio do FLO, com grande proximidade entre escritores e leitores”.

Nesta quarta-feira, às 21h15, foi a abertura oficial do encontro, no Centro de Arte de Ovar, a que se seguiu a primeira conversa do festival, com a presença do músico e cantor da banda UHF, António Manuel Ribeiro, e do arquitecto e escritor Manuel de Queiroz. A moderação ficou a cargo do autor e editor Bruno Henriques, co-autor da personagem satírica Jovem Conservador de Direita. Mote: “A liberdade só existe quando todos os nossos actos concordam com todo o nosso pensamento” (Agostinho da Silva).

Depois, poderá assistir-se a Guião para Um País Possívelde Sara Barros Leitão, que assina a dramaturgia e encenação de um texto interpretado por João Melo e Margarida Carvalho.

Antes, a Biblioteca Municipal de Ovar deu a conhecer a mostra bibliográfica 500 Anos do Nascimento de Luís de Camõesem que actores da companhia Contacto encenaram e interpretaram textos seleccionados por Maria Bocchichio e Milton Pacheco, que em seguida orientaram a tertúlia “Camões ultrapassa as fronteiras do mito”.



Na mostra bibliográfica 500 Anos do Nascimento de Luís de Camõesactores da companhia Contacto encenaram e interpretaram textos seleccionados por Maria Bocchichio e Milton Pacheco
DR

“Tudo imperdível”

O professor e escritor que organiza o festival com o apoio da Câmara Municipal de Ovar tem dificuldade em enumerar o que não se pode perder nestes próximos cinco dias. Ainda assim, sugere, por e-mail: “Gostaria de destacar as jornadas literárias para professores que integram uma formação creditada, bem como as mesas de conversa, oficinas e apresentações de livros.” Estas jornadas pedagógicas são orientadas em conjunto com José Saro, coordenador interconcelhio da Rede de Bibliotecas Escolares.

Parafraseando a canção de Paulo de Carvalho, “dez anos é muito tempo”, este prazo não é, no entanto, suficiente para se alcançar o propósito de um encontro que quer impulsionar a cultura fora dos grandes centros urbanos. Um dos objectivos do FLO é o de “projectar Ovar para o território nacional e entrar no circuito dos encontros literários” do país.

Chegar a toda a comunidade

Uma das preocupações do festival desde o início foi a de “abranger todas as faixas etárias e toda a comunidade”. Daí o leque alargado de actividades, sessões e formações.

“Vamos ter música, dança e teatro, com a palavra em pano de fundo. A sessão de poesia com Aurelino Costa, Zetho Cunha Gonçalves e Aurora Gaia vai ser especial. Para os mais novos, destaco as oficinas e sessões de contos. Vão também ser apresentados os livros de Eduardo Sá e de Luísa Sobral, entre tantos outros”, enumera o também editor e livreiro (Doninha Ternurenta).

Destaque ainda para o dia de domingo, 22 de Setembro, em que “Ana Isabel Gonçalves e Paula Pina (Apanha-Palavras) trazem as Histórias na Canastra” e também para “o lançamento de mais uma edição do Concurso Literário e de Ilustração Júlio Dinis”, organizado pelo Agrupamento de Escolas Ovar Sul.

Depois da pandemia, o festival “reestruturou-se e acabou por alcançar maior dimensão”, recorda Quinta Carlos Nuno. Dez anos depois, diz, “as dinâmicas estão bem oleadas e é mais fácil articular as diferentes valências da programação”. E não tem dúvidas: “Há capacidade para evoluir e o FLO tem ainda muito por onde crescer.”

No mesmo sentido vão as declarações do presidente da Câmara Municipal de Ovar, Domingos Silva: “O FLO é um evento que dá notoriedade ao concelho, transformando-o num palco de partilha e criatividade, num contexto cultural único e distintivo que cada vez mais leitores e escritores procuram.”



Os dez folhetos com a programação de todas as edições do Festival Literário de Ovar
DR

Com o intuito de abrir o Festival Literário de Ovar a cada vez mais gente, o autarca fala “num programa ecléctico e plural que quer ser próximo das pessoas e com predicados para todos os públicos, mesmo os que não tenham hábitos de leitura tão enraizados”.

Diz ainda: “Cinquenta anos depois do 25 de Abril, que teve um papel fulcral no acesso à leitura, continuamos caminho, com o objectivo de aproximar escritores e leitores e de estimular a leitura e a criatividade em todas as idades, celebrando, juntos, a liberdade que Abril nos permite viver.”

Carlos Nuno Granja, por seu lado, acredita que esta é “uma aposta ganha, bem consolidada e sustentada”, pelo que não vê outra possibilidade que não seja “a sua continuidade”.

Biblioteca Municipal de Ovar, Centro de Arte, Escola de Artes e Ofícios, Museu Júlio Dinis, Parque Urbano, Jardim dos Campos e Parque Ambiental do Buçaquinho são os espaços em que decorrem as sessões, espectáculos e actividades do festival, que se prolonga até domingo, dia 22.

Fuente