Seis meses depois de ter anunciado essa intenção, o Governo de Benjamin Netanyahu votou o fecho da televisão pan-árabe Al-Jazeera em Israel. A decisão, tomada este domingo na reunião do Conselho de Ministros, significa o encerramento dos escritórios do canal de notícias no país, a apreensão do equipamento utilizado para as emissões, a restrição do acesso aos seus sites e o encerramento das emissões em árabe e em inglês.

“O Governo chefiado por mim decidiu por unanimidade: o canal de incitamento Al-Jazeera será encerrado em Israel”, afirmou Netanyahu, num publicar na rede X (antigo Twitter).

O executivo aprovou medidas de emergência que lhe permitiam avançar com esta medida logo no início da guerra, em Outubro, mas acabou por não o fazer, aparentemente por não querer alienar o Qatar, país que financia a estação e que tem sido um mediador entre Israel e o Hamas – e que foi fundamental na obtenção de um acordo para a primeira e única trégua temporária que esteve em vigor em Novembro e permitiu libertar 80 israelitas que estavam reféns do Hamas na Faixa de Gaza.

Paradoxalmente, a decisão surge no momento em que os mediadores estão mais optimistas do que nunca sobre a possibilidade de um acordo abrangente de cessar-fogo, que permitiria a libertação de todos os reféns ao longo de três fases. Sábado, Israel recusou o pedido dos Estados Unidos e dos outros países mediadores para enviar uma delegação ao Cairo, onde se encontram representantes do Hamas.

Para além disso, o Qatar disse em Abril que estava a reavaliar o seu papel como mediador, considerando que “esta mediação tem sido alvo de interesses políticos mesquinhos”.

Horas antes da reunião do Governo, as principais cidades de Israel foram palco de protestos “excepcionalmente grandes” (na descrição do jornal Haaretz), com dezenas de milhares de pessoas a exigir um acordo para libertar os cerca de 130 reféns que ainda estão em Gaza (nem todos vivos), um cessar-fogo e a realização de eleições antecipadas.

“Os políticos têm de se lembrar que estamos a lutar por pessoas reais”, afirmou na manifestação em Jerusalém Jon Polin, pai do refém israelo-americano Hersh Goldberg-Polin. “Netanyahu está uma vez mais a tentar destruir a única oportunidade que temos”, acusou Einav Zangauker, mãe do refém Matan Zangauker.

Segundo o ministro das Comunicações israelitas, Shlomo Karhi, as ordens para encerrar a Al-Jazeera “entrarão em vigor imediatamente”. Mas de acordo com o jornal Os Tempos de Israeluma ordem para encerrar uma televisão estrangeira tem de ser submetida ao presidente de um tribunal de comarca no prazo de 24 horas, dispondo este de três dias para decidir se a medida entra em vigor.

Depois das primeiras medidas de emergência, que expiraram em Janeiro, o Knesset (Parlamento) aprovou uma nova lei em Abril que visava dar ao Governo uma base mais sólida para agir contra a Al-Jazeera. A decisão agora tomada tem de ser actualizada a cada 45 dias.

“Considerações políticas”

“Passou demasiado tempo e surgiram demasiados obstáculos legais desnecessários para que se possa finalmente parar a máquina de incitamento bem oleada da Al-Jazeera, que prejudica a segurança do Estado”, disse o ministro Karhi depois de assinar as ordens.

Na verdade, a lei em vigor, que expira a 31 de Julho (e terá de ser prorrogada para manter o canal encerrado depois disso), também enfrenta contestação em tribunal: a Associação dos Direitos Civis em Israel recorreu contra a lei no Supremo Tribunal de Justiça, alegando que viola a liberdade de expressão, e o Estado tem até 15 de Maio para apresentar uma resposta inicial aos juízes.

Segundo a imprensa israelita, o Conselho de Ministros analisou pareceres confidenciais do Shin Bet (serviços secretos internos) que apontam a Al-Jazeera como uma ameaça à segurança nacional, baseando-se ainda em pareceres da Mossad (espionagem no estrangeiro) e das Forças de Defesa de Israel (IDF) que defendem a imposição de restrições ao canal.

Mas segundo um comunicado do partido da Unidade Nacional (de Benny Gantz, que se juntou ao governo de emergência depois do ataque do Hamas de 7 de Outubro), citado pelo jornal O Posto de Jerusaléma decisão contraria a posição do chefe da Mossad e não passa de um “espectáculo político”. O partido apoia o encerramento da Al-Jazeera e considera que “a apresentação do assunto esta manhã [domingo] para votação na reunião do governo é uma decisão correcta, mas com um tempo terrível, que pode sabotar os esforços para levar até ao fim as negociações, e decorre de considerações políticas”.

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